A Polícia Federal (PF) investiga um esquema nacional de fraudes em concursos públicos, incluindo o Concurso AFT para Auditor-Fiscal do Trabalho, no qual gabaritos teriam sido vendidos por até R$ 500 mil. As apurações começaram após uma denúncia anônima e revelam uma organização criminosa com base em Patos (PB), suspeita de ter atuado também em seleções da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Polícias Civis de Pernambuco e Alagoas e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o grupo criminoso obtinha acesso antecipado às provas, incluindo imagens, gabaritos e até propostas de redação. Esse material era repassado a candidatos poucas horas antes da aplicação dos exames. Conversas interceptadas pela PF mostram negociações para garantir aprovação no concurso AFT, com valores que chegavam a meio milhão de reais.
As investigações apontam que, para efetivar o esquema, membros da quadrilha discutiam o suborno de vigilantes e a desativação de câmeras de segurança nos locais de prova. Outro método identificado envolvia o uso de documentos falsos para que integrantes mais preparados fizessem o exame no lugar dos candidatos originais.
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PF deflagra operação “Última Fase” contra fraudes em concursos
Na última quinta-feira (2), a Polícia Federal deflagrou a operação “Última Fase”, com o objetivo de desarticular a organização criminosa. Os investigados devem responder pelos crimes de fraude em concurso público, falsificação de documento, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.
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Ex-policial é apontado como líder do esquema
De acordo com o inquérito, o ex-policial Wanderlan Limeira de Sousa é apontado como um dos líderes da quadrilha. Ele, o irmão e a sobrinha — Larissa Neves — teriam sido aprovados no concurso para Auditor-Fiscal do Trabalho por meio da primeira edição do Concurso Nacional Unificado (CNU).
Relatórios da PF indicam que seis aprovados tiveram gabaritos idênticos aos apresentados pelo grupo criminoso. A sobrinha de Wanderlan realizou a prova em Patos (PB), embora resida em São Paulo. Investigações mostram que o pai dela, Antônio Limeira das Neves, pagou R$ 500 mil pelo gabarito, parte do valor com peças de ouro e um veículo.
Larissa teria recebido as respostas da prova do turno da manhã antes das 8h do dia 18 de agosto de 2024, sendo que o exame começou às 9h. Às 11h39, também recebeu as respostas do turno da tarde e um texto completo para a redação, cujo tema era idêntico ao da prova aplicada.
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Governo acompanha investigação e reforça combate a fraudes
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), responsável pelo CNU, informou que acompanha os desdobramentos da operação da PF e tem colaborado desde o início das apurações. O órgão confirmou a identificação de uma fraude pontual durante a aplicação das provas da primeira edição do Concurso Nacional Unificado.
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Sindicato cobra punição e preservação dos aprovados legítimos
O Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait) publicou nota na terça-feira (7) defendendo investigação rigorosa e transparente, sem prejuízo aos candidatos que prestaram o concurso de boa-fé.
“O exercício do cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho exige rigor ético, preparo técnico e comprometimento com o interesse público, valores incompatíveis com qualquer irregularidade”, destacou o sindicato.
A categoria reforçou que as fraudes não devem comprometer o prosseguimento do processo seletivo e a nomeação dos 855 aprovados, autorizada por portaria publicada em setembro pelo MGI. O cargo exige nível superior em qualquer área e oferece remuneração inicial de R$ 22.921,71, podendo chegar a R$ 23.921,71 com o auxílio-alimentação de R$ 1 mil.
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Concurso do TCE PE é suspenso após ligação com o mesmo esquema
Em meio à investigação, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) decidiu suspender o concurso para auditor de controle externo até que todos os fatos sejam esclarecidos.
A decisão ocorreu após a divulgação do resultado preliminar, em que o nome de Laís Giselly Nunes de Araújo, conhecida como “candidata gênio”, apareceu entre os aprovados. Ela já havia sido aprovada no CNU de 2024 para o cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho.
A PF identificou que o gabarito de Laís era idêntico ao de Wanderlan Limeira de Sousa, o que levantou suspeitas de envolvimento direto com o esquema criminoso. Segundo o portal Metrópoles, o relatório da PF classificou suas aprovações como “estatisticamente improváveis”, apontando fortes indícios de fraude.